Tentando Acordar

17 de agosto de 2017

Não sei se isso é um problema para mais alguém, mas sempre tive dificuldades em acordar cedo


O que é engraçado, pois durante meus primeiros anos de vida (talvez os seis primeiros), essa questão nunca me incomodou. Imagino que seja porque criança não sabe ver as horas direito. Ou porque a vida é mais simples nessa época, tão simples que dormir não tem a importância que a gente dá quando entramos na fase adulta. 


Esses dias aconteceu uma coisa engraçada. 
Era uma sexta-feira e, como toda sexta-feira, o cansaço da semana começou a bater já na hora de levantar. O celular despertou e eu fiquei ali, olhando para a telinha e me segurando para não deslizar o botão do "mais cinco minutos". Desde quando li uma reportagem de um médico dizendo que esses cochilos são prejudiciais para o nosso sono, tento evitar ao máximo usar o "soneca". Mas o ponto não era esse, o ponto é que tava difícil de levantar. 
Ocasionalmente acabou acontecendo...
Botei minhas calças, abotoei a primeira camisa que encontrei no roupeiro e coloquei meus sapatos. Fui até o banheiro e joguei um pouco de água no meu rosto. O zumbi me encarando no espelho definitivamente precisava daqueles cinco minutinhos. Escovei meus dentes e fui até o quarto pegar minha mochila pra ir para o escritório. 
E lá estava eu andando até a cozinha, meio dormindo, meio acordado e, lá, na penumbra, vi um movimento estranho na parede. A princípio parecia uma lagartixa. Até aí tudo bem, lagartixas são nossas amigas. Se você mata lagartixas você é uma péssima pessoa. Continuei andando e observando o animalzinho na parede quando percebi que ele estava se movendo rápido. Rápido demais para uma lagartixa. 
Semicerrei meus olhos para ver se conseguia enxergar melhor, como dito antes, estava em uma penumbra considerável. E foi então que, em meio aos seus movimentos rápidos, ele desgrudou-se da parede e começou a dar rasantes pela cozinha. Então reconheci. 
A face horrenda do animal que assombra as nossas casas desde os primórdios da civilização. As suas antenas longas, suas patas finas cheias de filamentos. Sua presença nefasta que carrega nossos pesadelos em suas asas grotescas. Senti meu coração bater mais forte, liberando adrenalina por todo meu corpo enquanto eu me esquivava daquele monstro abominável planando em minha cozinha. A pior parte foi que a criatura agora parecia ter o dobro do tamanho e, a cada vez que eu piscava meus olhos, ele ia aumentando e aumentando... 
Eu não estava preparado psicologicamente para matar uma barata às seis da manhã. Convenhamos, ninguém está. 
Ela era enorme, tão grande quanto imaginamos que Gregor seja. 
Pobre Gregor, que descanse em paz. 
Olhei para o relógio e percebi que estava atrasado. Não poderia lidar com a criatura. Matar uma barata é um processo que necessita de preparo e tempo. Eu não tinha nenhuma dessas coisas naquele momento. Mas ainda tinha a questão de eu ter de passar por toda a extensão da cozinha até chegar na porta para sair de casa. 
Dei alguns passos para trás e observei-a. Ela ficou lá, voando e rindo, se achando a dona do espaço. Maldita. Fechei meus punhos e saí em disparada até a porta, abrindo-a rapidamente. Tive uma surpresa ao ver olhos amigáveis me esperando do outro lado. Deixei que meu cachorro entrasse na cozinha. 
Bóris sempre foi um exímio caçador de baratas. 
Dei dois tapas em sua cabeça e lhe dei a missão de matar o monstro com promessa de grande recompensa quando eu retornasse para casa. Encostei a porta e saí, certo de que naquela manhã não precisaria de um pingo de café para acordar.
Hah!
A quem eu quero enganar?

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