Começos são engraçados
A gente sente aquele friozinho na barriga. O famoso medo do desconhecido. Mas fico feliz de estar dando este passo com o blog e tudo mais. Eu queria que a primeira coisa a ser publicada aqui fosse especial, tipo aquelas pedras fundamentais que colocam antes de grandes construções. Algo que fosse sedimentar esse novo momento na minha vida como escritor e, por que não, como pessoa. Foi então que me lembrei de "Ao Meu Lado", esse conto travestido de poesia. Gosto dele. Espero que vocês também. Isso aqui é só o começo.
Ao Meu Lado
Quando tinha seis anos, estava em entrar para o colégio e ser um menino
crescidinho.
Quando
completei treze, estava em ter barba; desisti pouco tempo depois, quando
percebi que nunca aconteceria.
Com
dezessete, estava em ser um adulto...
Aos dezoito estava em
poder dirigir, livre, por uma estrada sem fronteiras que demorei anos para
poder trilhar.
Com vinte e dois estava
naquele emprego que pagava bem...
Tinha
vinte e quatro, quando ele estava em sair daquele emprego que eu odiava para
poder fazer o que eu sempre quis, mesmo que isso não fosse tão rentável.
Por volta dos vinte e
oito, estava em terminar a bendita graduação que tanto custou para vir.
Na
casa dos trinta, eu o perdi por um ou dois anos quando perdi também meu pai.
Tempos de trevas. Eventualmente nos encontramos de novo, quando já estava
batendo os quarenta e ele estava fixado nos olhos castanho-escuros de uma moça
que havia conhecido. Durante os primeiros anos, ele estava em fazer aquilo dar
certo. Pra valer, dessa vez. Deixei-o de lado novamente algum tempo depois,
enquanto descobria como viver a dois... E depois a três, e a quatro, e a
cinco... Finalmente entendi os cabelos brancos de meu pai. Mas nada que vale a
pena é fácil. A essa altura, ele estava em entregar a melhor vida que eu podia
para as quatro pessoas que mais amo.
Aos
cinquenta e cinco, estava em enfrentar a doença.
Com cinquenta e seis, estava em
enfrentar a doença.
Com
cinquenta e sete, estava em enfrentar a doença.
Com
cinquenta e oito... Bem, com essa idade, estava em enfrentar a dor da perda
novamente e a esperança vã de que ela passasse logo para que eu pudesse voltar
a persegui-lo.
Não é fácil ser órfão.
Então
é assim que a dona daqueles olhos castanho-escuros sentia-se esses anos todos?
Quando tudo que eu mais queria era ter barba, ela já estava lidando com esse
sentimento...
Como ela é forte.
Como
seus olhos são lindos.
Seus
grandes e belos olhos cor de amêndoas que penetram no âmago de minha alma e me
passam essa paz que tanto preciso.
Que bom que ela entrou em minha
vida. Ela me mostrou que nada dura pra sempre.
Nem
os bons momentos...
...Nem
os outros.
Acho que foi só então que eu
percebi. Percebi que havia encontrado meu sonho.
Percebi que ela estava ao meu
lado esses anos todos.
Deitando
ao meu lado. Acordando ao meu lado...
Que
sortudo eu sou.
Muito bom! Aguardamos o próximo.
ResponderExcluirGuilherme B.
Muito obrigado pela visita e pelo comentário, Guilherme!
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